Mens sana in corpore sano

“Mens sana in corpore sano” é um conhecido pensamento latino que vem sendo repetido há muitas e muitas gerações mundo afora com a finalidade de consolidar entre os homens a necessidade de cuidar tanto do corpo quanto da mente. Invariavelmente encontra-se essa frase em latim em ginásios e instalações esportivas com o intuito de motivar atletas a conquistar melhores resultados em suas competições esportivas.
O filme “Coach Carter – Treino para a Vida”, estrelado por Samuel L. Jackson e dirigido por Thomas Carter, caminha na direção desse velho provérbio latino não no sentido de torná-lo novamente conhecido entre os homens, mas especificamente na busca de uma reinterpretação de sua mais conhecida tradução.
A terminologia latina não é mencionada no filme, na realidade está nas entrelinhas e pode ser percebida e decodificada com facilidade quando termina a exibição da película. O mais interessante é saber que a nova leitura desse conhecido pensamento, que de tão desgastado já pode até mesmo ser considerado um chavão, baseia-se em fatos reais, seus personagens realmente vivenciaram essa notável experiência e acabam, através da mesma, nos dando mais uma importante e interessante lição de vida.
No entanto, antes de se propor a assistir o filme, acredito que você terá que, como eu, superar a resistência que se impõe a nós, cinéfilos diante de mais um filme que tem como temática a superação de estudantes-atletas, motivados pela presença marcante e carismática de um surpreendente professor/treinador e que, em virtude de uma série de reviravoltas em suas vidas a partir de sua experiência no esporte conseguiram vitórias notáveis…
Esse roteiro já nos parece batido demais e, em função disso, talvez pensemos duas vezes antes de levar o filme para casa. Eu mesmo me vi agindo dessa forma. Não se enganem com as aparências e descrições simplórias da capa e da sinopse. O filme traz muito mais em seu conteúdo do que uma simples história de vencedores do esporte e é nesse ponto que ele atinge o “Mens Sana” latino.
Não basta apenas o “Corpore Sano” surgido da dedicação integral e plena aos treinamentos; Não é suficiente somente a disciplina que leva ao surgimento de muitos campeões; tão importante quanto tudo isso são as vitórias que derivam do estudo, do esforço com os livros e tarefas, da presença e participação em sala de aula. É nesse ponto que “Coach Carter” se diferencia dos demais filmes que tem o esporte como ponto de partida e se torna uma referência diferenciada e inteligente para todos aqueles que trabalham e vivenciam a educação…
A Richmond High School tem um dos piores times de basquete da liga estudantil estadual. Raramente seu time obtém alguma vitória e, nunca conseguiu chegar as fases finais dos torneios locais. Seus jogadores se contentam em apenas fazer algumas jogadas de efeito e, eventualmente, conquistar alguma vitória e dessa forma justificar a sua vida de esportistas.
Os resultados escolares também são lastimáveis e não se referem exclusivamente ao rendimento dos atletas do time de basquete. Poucos são os estudantes dessa escola que conseguem chegar à universidade, muitos desistem até mesmo de completar o Ensino Médio (High School) e a incidência de jovens da comunidade no mundo do crime é bastante alta.
Quando a escola acerta a contratação de um novo treinador para sua equipe de basquete pensando na próxima temporada não imagina que sua chegada vai mexer muito com os brios do time e também com o próprio conceito de escola que a comunidade tem. A maioria das pessoas acredita que treinadores e professores de educação física devem se preocupar apenas com a parte atlética da formação de seus pupilos, não é?
Ken Carter (Samuel L. Jackson), o novo treinador, não pensa dessa forma. Desde o princípio aplica métodos ortodoxos de trabalho visando dar a seus jovens o máximo de disciplina para conseguir nos jogos os resultados que todos gostariam de atingir. Além disso, diferentemente de outros vitoriosos treinadores, Carter defende a tese de que as vitórias do esporte devem também ser transformadas em vitórias na vida futura.
De que valem os troféus que enfeitam os corredores das escolas se depois de tudo isso esses “vitoriosos” atletas não conseguirem diplomas, formação universitária, trabalho, estabilidade, decência e respeitabilidade? Partindo dessa premissa, Carter desafia a comunidade e, mesmo diante de uma excepcional campanha de sua equipe, tranca o ginásio ao mesmo tempo em que cancela jogos para exigir melhor rendimento acadêmico de seus jogadores.
Afinal de contas, como aprendemos com o velho chavão latino, a completude e a harmonia nos seres humanos se dão a partir do momento em que temos o corpo são e a mente também…
Fonte: Planeta Educação

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